terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Vidas

Há vidas complicadas. Cada um tem a sua história e cada história tem as suas personagens, as suas características, as suas escolhas.

Na edições online dos jornais de sexta-feira havia uma notícia "Homem de 47 anos encontrado morto em casa parcialmente comido pelos seus cães". Nem abri a notícia de tão feia, tão crua, tão triste a  achei.
No entanto depois soube do que se tratava, um homem que vivia sozinho com 2 cães e 1 gato que teria morrido há uns dias e que os animais, provavelmente por sobrevivência e na falta de alimento, se tinham alimentado do dono.
Os comentários que acompanhavam as notícias iam das mais sinceras condolências, a comentários incrédulos de amigos que conheciam a vítima, a parvalhões sanguinários que se escondem atrás de um teclado e de um monitor para vomitarem o que de tão negro lhes vai no ser.

Li. Li tudo. Porque se na sexta-feira o Homem de 47 anos não tinha nome, no Domingo já tinha e não era um nome qualquer, era um nome conhecido, familiar. Não familiar daquele "faz-me lembrar alguém", familiar mesmo, do mesmo sangue, primo, meu primo (na verdade, filho de um primo direito do meu pai). Fiquei tão chocada... 
Depois do divórcio dos pais, os rapazes ficaram à guarda da mãe e nunca mais tivemos contacto. As coisas nunca foram pacíficas naquela família e havia muito que não compreendíamos. Sempre houve muito dinheiro, mas muita pouca responsabilidade; muita liberdade, nenhuns limites.
O primo do meu pai era filho único e não havia asneira que a mãe não desculpasse e o pai não pagasse a conta. 
A mãe morre e a vida acaba. O pai, agora viúvo morre para a vida, torna-se numa pessoa amargurada, triste, fechada. O filho perdeu o norte porque a relação com o pai sempre foi conflituosa e agora não está a mãe para intervir.
O dinheiro escasseia fruto de muitos excessos e afunda mais o barco.
Os miúdos seguem a vida com a mãe e pouco ligavam ao pai e à família "deste lado".
Passaram-se os anos, muitos anos, 20...talvez mais... morreu o avô, morre o pai um mês depois. Passado um ano morre a mãe, morre o tio materno, morre a avó, tudo numa cadência assustadora.
Ficaram os dois irmãos. E agora só resta um...

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